quinta-feira, 19 de setembro de 2013

esta é uma escrita-labirinto que não pretende acumular certezas, mas deparar-se com dúvidas.

um fantasma é o cumprir de uma promessa jamais feita, a materialidade de algo que foi permanentemente perdido, é posse sobre algo que jamais foi seu.
um fantasma é espécie de intensidade que enche uma parada de movimento e a todo momento de um deslocamento anuncia a possibilidade de seu frear.
a representação se apresenta como fantasma não apenas da dança, mas fantasma da arte.
em última instância a representação, em vez de uma presentação (presentificação?), seria modo de operar sobre o mundo que atormentaria para além do exercício da arte: em que medida as (auto)imagens, (auto)narrativas, (auto)discursos cristalizados fincam nossos pés em uma permanente manutenção do que já foi e estancam a emergência do que ainda pode ser?
representar sendo entendido como fazer novamente presente o que já é se faz nocivo na medida em que impede o que ainda pode ser e se quer foi imaginado. representação como estanque do devir.
uma oposição entre a ação do sentido e o sentido da ação: no lugar de descobrir e grudar e definir os sentidos, significados, imagens, narrativas e discursos cristalizados das ações, perceber em tais ações um sentido-direção, um vetor que dê vazão a percepção de sentidos, significados, imagens, narrativas e discursos ainda por vir.
a (re[a])presentação como manuseio do tempo, como fazer-se presente funcionaria como um pharmakós: veneno ou antídoto para a doença de tomar o presente como uma sucessão do passado e uma precedência de futuro. ser/estar presente é gerir uma coexistência de tempos: carregar a virtualidade do passado e a imprevisibilidade do futuro.
dançar conjugando o tempo presente é transformar uma cicatriz de tempo - um dejeto que resta - em um adorno.

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