segunda-feira, 23 de setembro de 2013

dia 3

 
From: opiantino@gmail.com
Date: Mon, 23 Sep 2013 00:30:42 -0300
Subject: artigo: a incerteza como índice de construção de autonomia em dança - Elke Siedler e Adriana Machado
To: ander_lc5@hotmail.com; renatogrecchi@gmail.com

olá Anderson,
oi Renato,

Me perdi no labirinto de palavras no blog da formação compartilhada (risos) e busquei um fio de Ariadne em um texto da Elke Siedler. Acho que a investigação da autonomia e da disponibilidade na dança é fascinante. Vamos conversando sobre isso.

em anexo o artigo,
bjs

o b e r D a n p i a n t i n o  :::::::


From: opiantino@gmail.com

Date: Mon, 23 Sep 2013 22:26:56 -0300
Subject: Re: artigo: a incerteza como índice de construção de autonomia em dança - Elke Siedler e Adriana Machado
To: ander_lc5@hotmail.com



corpo questionador se pergunta como atravessar a porta - essa configuração ao mesmo tempo limite_e_passagem. Em crise, o corpo se torna crítico e reelabora-se no tempo.

meu corpo é perfeitamente grande para já ter sido pequeno o suficiente para passar por uma porta

parece dizer Alice ao escolher beber do frasco que apropriadamente aparece, emerge no presente da crise. Nesta escolha pelo incerto, ela se reconhece como coisa disponível ao devir tamanho e 
embriaga-se do vestígio-de-pequenez que o tempo marcou em seu corpo. A Alice pequena sempre esteve ali: no devir-corpo. A capacidade de adaptar-se a mudança no contexto faz a rede de dançarinos sobreviver. Aparece então, diante dos olhos do ser-observador, a beleza no tempo da emergência. E pergunto: para aqueles que estão mergulhados na experiência de simplesmente ser experiência, há tempo para ver beleza? não seria mais potente sentir a emergência como índice do aprendizado? Emergência como tempo de aprender a aprender?


No presente da crise emerge a adaptabilidade daqueles que treinam sua autonomia em relação e pela continuidade da relação do corpo conectivo. Mas essa "continuidade" não é garantida pela manutenção de uma identidade ou de sintomas de identidade em looping. Antes disso, a disponibilidade / aprendizado / adaptabilidade nos joga no vazio de encontrar-se com outra coisa / atravessamento / empatia.


A ética do movimento se materializa na consciência dos engajamentos e na poeira / nuvens / ruínas que se levantam a cada engajamento por empatia. E nesse labirinto de vestígios, a beleza / aprendizado é experimentada por quem atravessa / tateia / engole / saboreia aquilo que lhe atravessa.
 

o b e r D a n p i a n t i n o  ::::::::::::::::::::::::::::
D e s i g n  G r á f i c o  ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::.


From: ander_lc5@hotmail.com
To: opiantino@gmail.com
Subject: RE: artigo: a incerteza como índice de construção de autonomia em dança - Elke Siedler e Adriana Machado
Date: Tue, 24 Sep 2013 02:12:11 +0000


a crise como demanda para o posicionamento crítico no corpo que simultaneamente se tem e se é necessariamente postula um lidar com ruínas: trabalhar com o que desmoronou, com o que não é mais o que outrora foi construído, com o que resta, com o que de algum modo sempre ali esteve, mas só pode ser percebido como devir em um corpo que transitoriamente encontra meios de estar disponível.
a beleza - como todo o resto - é nuvem que não pode ser deliberada, desejada, controlada; a beleza só seria genuína na dança quando emergente de uma honesta relação com os parâmetros de cada campo de ação.
beleza é construção de elegância nos tropeços inerentes ao percorrer de um labirinto de ruínas.
 


ruínas


a crise como demanda para o posicionamento crítico no corpo que simultaneamente se tem e se é necessariamente postula um lidar com ruínas: trabalhar com o que desmoronou, com o que não é mais o que outrora foi construído, com o que resta, com o que de algum modo sempre ali esteve, mas só pode ser percebido como devir em um corpo que transitoriamente encontra meios de estar disponível.
a beleza - como todo o resto - é nuvem que não pode ser deliberada, desejada, controlada; a beleza só seria genuína na dança quando emergente de uma honesta relação com os parâmetros de cada campo de ação.
beleza é construção de elegância nos tropeços inerentes ao percorrer de um labirinto de ruínas.

dia 1



From: otohenrique@hotmail.com
To: ander_lc5@hotmail.com
Subject: RE: sobre a formação compartilhada em artes presencias do solo expectativas e
promessas de alejandro ahmed‏
Date: Sat, 21 Sep 2013 00:32:51 -0300
Se fizermos um retorno imaginário aos primórdios da civilização humana, talvez esta fosse uma importante característica para a sobrevivência da espécie, visto que a precária organização civil estaria muito mais suscetível aos perigos do mundo natural que faz parte. Entretanto nosso modo de viver se especializou tanto na produção de (auto)imagens, (auto)narrativas e (auto)discursos que nos encontramos hoje numa situação na qual a diferenciação, enquanto produção do novo, aliada a reprodutibilidade dos meios de informação, estancam quase instantaneamente a fissura que acabara de se formar, para usar esta diferença como matéria de consumo. A informação é uma das peças da grande máquina de representação que com seus órgãos, organismos e organizações suga intensidades e as compacta, formando mais uma peça da engrenagem do dever ser.  Tal cristalização não se dá de modo espontâneo, no sentido de não ser algo que naturalmente é necessário para o convívio social. Ela se dá na medida em que nos tornamos cúmplices, como diria Deleuze: na medida em que nosso desejo é capturado.

Agora, entendendo cristalização como efeito de uma necessidade de auto-regulação da identidade/unidade (aqui visto como acoplamento de processos produtivos que trabalham em função da manutenção de si na relação com o de fora, e não como um ser definido que luta contra outro), como se dá a manutenção da ética no salto entre a micro-política das forças que atravessam uma unidade e a macro-política do corpo social debilitado pelo seu estilhaçamento ainda não reconciliado?

Vlw, bjs.


Oto Henrique
48.9622-6767




From: ander_lc5@hotmail.com
To: otohenrique@hotmail.com
Subject: RE: sobre a formação compartilhada em artes presencias do solo expectativas e promessas de alejandro ahmed‏
Date: Sat, 21 Sep 2013 23:54:03 +0000

a viabilidade de criar ficçoes e a habilidade em tecer metáforas são artificios de sobrevivência do humano enquanto espécie.
a embriaguez do que se entende como sujeito, a embriguez dos muitos auto nos faz deparar em um olhar mais atento não com a certeza de que somos. mas com a certeza de que podemos estar esvaziados de engajamento e que o maior do cúmplice em nosso esvaziamento é aquele que está no espelho quando o encaramos.
a solução (solução?!) não seria encher o vazio. se nosso desejo foi capturado, não devemos tomar o pagamento de um resgate como passo inevitavelmente a seguir.
se em macho e micro escalas temos o desejo capturado, se nosso sujeito se debate entre ter e ser, e se o primeiro tutela uma ficção de controle sobre si enquanto o segundo assinala a possibilidade do perder-se é uma ética da publicaçao, uma ética do como fazer público que parece ser caminho transitório - sempre transitório - do labirinto.
 
 

From: otohenrique@hotmail.com
To: ander_lc5@hotmail.com
Subject: RE: sobre a formação compartilhada em artes presencias do solo expectativas e promessas de alejandro ahmed‏
Date: Sun, 22 Sep 2013 23:47:21 -0300
texto síntese:
Singularidade enquanto efeito de produção de si na fronteira do encontro com o de fora. Porosidade como condição de criação de singularidade.
A singularidade diz respeito a dose necessária de (auto)conservação para que se mantenha a pluralidade do existir. Pois sem ela tudo se torna o mesmo e a diferença se perde, já em excesso perde-se o horizonte do outro e encerra-se no umbiguismo.
engajamento como tecnica para permitir a abertura dos poros que permite o fluxo das forças em devir ativo.
No trabalho de desvendar este engajamento um dos maiores aliados é o tempo, que nos permite abrir a fissura no que está estancado - como a água que fura a pedra - gerindo a coexistência do passado e futuro no momento relâmpago do presente que se racha.
O fantasma é o que se torna visível deste engajamento. Ele é esta coisa borrada que está na fronteira entre o ter e o ser, singular e individual (este enquanto efeito da captura do desejo enfraquecido). Ele é também como a núvem que quando afastada mostra com clareza seus contornos e imagens e quanto mais próxima mais se torna imperceptível.

dia 2

Date: Sun, 22 Sep 2013 15:14:27 -0700
From: belmarry@yahoo.com.br
Subject: Re: texto-labirinto
To: ander_lc5@hotmail.com


Estar junto, dividir um espaço e uma experiência. 
Desafiador e excitante. Um conforto. Um perigo. 
Eu, o outro, o objeto de pesquisa numa rede não hierárquica de responsabilidade. Foco e metodologia, desenvolvimento de técnica. 
Puxar o seu próprio tapete, descobrir novos caminhos. Um caminho que se traça enquanto se caminha, encontrar a direção sem escolher uma flecha cega. 

O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para saiir daqui?Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato.Não me importo muito para onde, retrucou Alice.Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.Contanto que dê em algum lugar, Alice completou.
Oh, você pode ter certeza que vai chegar se você caminhar bastante, disse o Gato.

A experiência e o outro. A experiência de estar junto, de compartilhar e de construir juntos. Construir as ferramentas de um espaço/tempo transitório. Estar atento, poroso, aberto, possível de ser atravessado e afetado.
Eu me pergunto o tempo todo, o que é necessário? o que é suficiente? É um treinamento da percepção e de como se comportar.
A situação emergente só é possível pela manutenção constante dos recursos necessários para a sua permanência. O controle é de outra ordem, e nunca é absoluto. O estado de emergência não comporta rigidez e nem afunilamento na busca de uma perfeição. Estar disponível - requinte e elegância (isso sim é possível). Nessa experiência o que se revela são os modos de operar, é a coisa que acontece. 
A habilidade perceptiva constroe o objeto. Como mater um estado labirinto perceptivo dentro de uma pesquisa? Como gerar a autonomia da pesquisa labirinto?

From: ander_lc5@hotmail.com
To: belmarry@yahoo.com.br
Subject: RE: texto-labirinto
Date: Sun, 22 Sep 2013 23:10:24 +0000

a coisa... lepecki escreve no 9 variaçoões sobre coisas e performance assim:
Como se envolver com a ética, a poética e a política que a alteridade radical da coisa propõe? […]Uma resposta possível é dizer que, talvez, um devir-coisa não seja um destino tão ruim assim para a subjetividade. Quando olhamos ao redor, certamente parece ser uma opção melhor do que continuar a viver e a ser sob o nome de “humano”.A“coisa” nos lembra que organismos vivos, o inorgânico, e aquele terceiro produzido pelo seu confronto chamado “subjetividade”, todos necessitam ser libertados da força subjugadora chamada dispositivo-mercadoria -- força que esmaga a todos num modo da vida empobrecido, ou triste, ou dócil, ou limitado, ou utilitário. E uma coisa (ou seja, a “coisidade” em qualquer objeto e sujeito) pode realmente nos oferecer vetores e linhas de fuga longe da soberania imperialista de dispositivos colonizadores. Para tal, as coisas teriam que ser deixadas em paz, permitindo-lhes assim afirmarem-se coisa, mais uma vez – de forma a combater ativamente a sua sujeição a um regime particularmente detestável do objeto (o regime do dispositivo-mercadoria) e um regime particularmente detestável do sujeito (o regime da pessoalidade-espetáculo) que aprisionam ambos, objetos e sujeitos, em uma prisão mútua (LEPECKI, 2012, p. 97. Grifo meu.).
coisa em lepecki é uma variação despossessão que como estado ocorreria no corpo. como o destino que alice revela (não) desejar ao gato de cheshire, despossuir(-se), fazer-se coisa seria horizonte certeiro em labirinto pantanoso onde certamente uma rainha louca nos cortará a cabeça e algum chá estranho nos será oferecido. mas como alice o horizonte-coisa só vem na medida que entramos no labirinto.como manter um estado labirinto... uma pesquisa labirinto? ler a pergunta escrita faz sentir como a alice gigante que quase se afoga na próprias lágrimas antes de achar a garrafa certa para conseguir passar pela porta.existe essa garrafa certa?a porta pra qual se olha agora parece não estar disposta a dar dicas..mas - por outro lado - depois do labirinto todo é um despertar que eu quero?é melhor ser alice - perdida num labirinto-sonho - ou um gato vadio e sorridente que não se preocupa em sair do labirinto mais do que se preocupa em ser pontual ao chá?

Date: Sun, 22 Sep 2013 21:03:31 -0700
From: belmarry@yahoo.com.br
Subject: Re: texto-labirinto
To: ander_lc5@hotmail.com



Cuidado com as escadas, elas gostam de mudar de posição (J.K.R - Harry Potter)

Corpo sujeito-objeto.
Estar disponível a emergência. Perceber o devir-coisa da ação de um sujeito e se aproximar do devir-coisa da situação.
Um labirinto sem fim. Sem fim porque não há um caminho certo a seguir e não há um objeto determinado a encontrar, sem fim porque ele é reinventado a cada momento e o tempo é irreversível, sem fim porque ele é necessário.
Depois do labirinto eu tenho e sou o que vivi e a potência do que posso viver. 
(a Alice que é grande demais para passar por uma porta - a lagoa de lágrimas que invade a floresta - os animais molhados que correm em círculos para se secarem)
Modo de compreender, modo de operar, modo de viver. Modo coisificar-se, modo labirinto emergente.